A Louca Vida de Anny - Teimosia
- André Luiz
- 20 de out. de 2021
- 8 min de leitura
Na vida alguns acontecimentos fogem ao nosso controle, já em alguns momentos as coisas naturalmente acontecem da maneira que queremos, e existe ainda aqueles momentos que mesmo a vida dizendo não, forçamos ela dizer sim. Irei lhe contar uma história que aconteceu na vida de Any, em que o Universo fez de tudo e mais um pouco para que Any fizesse a escolha certa, porém por ser uma pessoa muito distraída não notou os sinais que lhe foram dados, e o que isso resultou? Calma, chegaremos lá!
(Por falar em pessoas distraídas, você notou que escrevi errado o primeiro nome de Any? Se não notou anime-se, tem muito de Any em você!).
Para falar dessa história temos que voltar alguns anos no tempo, onde Any tinha seus 16 anos de idade, tinha acabado de completar o Ensino Médio, e como qualquer adolescente indeciso, surtava por não ter escolhido qual curso da faculdade iria fazer. Após um período de muita reflexão e pensamentos no seu futuro, Any finalmente chegou a uma conclusão e matriculou-se na universidade.
Tudo era novo para Any, rapidamente acostumou-se as rotinas da universidade, que convenhamos são muito diferentes do ensino médio. Any estava feliz, porém, uma coisa lhe fazia sofrer muito: Os 5 ônibus que pegava tanto na ida para as aulas, quanto na volta para sua casa. Nas 3 horas que passava atravessando a cidade, Any sempre olhava pela janela com seu fone que funcionava apenas um lado, sonhando algum dia se livrar daquilo, quando em uma bela noite de domingo uma solução inesperada apareceu.
O pai de Any, após algumas horas de conversa com o filho mais velho do vizinho da frente, voltou para a casa com algumas fotos de uma moto que estava à venda. Todos ficaram interessados na ideia de facilitar as idas e vindas de Any para a faculdade. Após muitos debates da família na mesa do café da manhã, mesmo com a mãe de Any sendo contra, a decisão foi tomada: Any compraria uma moto.
Após alguns dias de negociações tudo estava decidido, faltavam apenas 2 dias para Any levar o dinheiro na casa do vendedor e sair de lá com a chave da moto. Any não aguentava mais de ansiedade, a espera pelo dia era tanta, que Any baixou as fotos da moto no seu celular e ficava horas olhando para elas com um sorriso no rosto. Todos na casa estavam felizes por Any, porém, algo incomodava sua mãe, que sempre repetia:
- Não sei se é uma boa ideia.
(Aqui só um pequeno aviso: Quando sua mãe lhe avisar de algo, escute-a, pois no fim, o que ela falou vai acontecer de alguma maneira, mesmo sendo completamente impossível, o Universo irá fazer acontecer, acredite!).
Os dias se passaram, e enfim chegamos a noite anterior ao dia esperado, Any quase não se controlava, a ansiedade era gigante, tanto que fora tentar dormir cedo para que o tempo passasse rapidamente, o que claramente não deu certo, pois só o que Any conseguia fazer, era imaginar o quão perfeito seria o dia seguinte, enquanto continuava a admirar as fotos de sua futura xodó. Ao cair da madrugada junto com o cintilar das estrelas, uma grande tempestade se formou, os raios e trovões que brilhavam no céu somados a chuva intensa fizeram com que houvesse uma queda de energia, deixando todos no completo escuro. Any mesclava seus sentimentos entre um medo muito grande e a ansiedade insaciável.
(Any morre de medo de tempestades e trovões, isso por conta de um episódio ocorrido quando era criança, mas vamos falar disso mais para frente, então sossega ai!).
A tempestade não cessou nem por um minuto durante toda a noite (Seria esse o começo dos sinais do Universo para Any?) e mesmo tremendo de medo a cada estrondo que ecoava pelos céus, Any com o celular em suas mãos adormeceu.
O sol começava a dar as caras quando Any acordou, não foi preciso nem sua mãe gritar, como já era de costume pelas manhãs, e muito menos o toque do despertador. Por conta da queda de energia na noite passada Any não carregou seu celular, mas isso não era nada comparado a alegria de finalmente ter chegado o grande dia. Any teria que pegar o ônibus às 07:45h da manhã, para chegar a tempo às 11:30h como havia combinado com o vendedor.
Apesar de toda a ansiedade, o sossego sempre foi uma marca registrada de Any, que em vez de arrumar todos os documentos necessários antecipadamente como sua mãe tinha avisado, deixou para reuni-los todos na última hora. Com isso Any saiu de casa às 07:43h, ouvindo sua mãe falar:
- Desista disso tudo, algo me diz que não é uma boa ideia.
Mas Any jamais desistiria, correu o máximo que pode chegando às 07:47h no ponto. O problema era: O ônibus já havia passado ou não? Any estava na berlinda, não sabia o que fazer, reunia fé para acreditar que o ônibus ainda passaria, ou desistiria? Quando Any olhou no relógio e viu que já eram 07:52h uma grande vontade de desistir surgiu em seus pensamentos, porém não foi o suficiente. Any decidiu voltar para a casa e pegar sua bicicleta e pedalar até o terminal, onde poderia pegar o segundo ônibus a tempo, e foi o que fez, quando chegou ao final da rua e virou a esquina a caminho de casa olhou para trás e viu o ônibus passando, a vontade de desistir cresceu, mas Any não desistiu.
(“Poxa Any, é um sinal se liga!”. Aposto que você está pensando isso agora, mas Any não se ligou.)
Após correr para sua casa, com aquele sentimento de frustração em sua mente, Any pegou sua bicicleta e pedalou velozmente até o terminal, onde rapidamente prendeu sua bicicleta com um cadeado de qualidade duvidosa, mesmo assim não conseguiu chegar no horário desejado e teve que esperar alguns bons minutos. Enquanto esperava seu celular começa a tocar, era sua mãe ligando. Any por estar quase sem bateria no celular não atende.
Já dentro do ônibus em direção ao local desejado Any olhava pela janela, mas dessa vez sem seu querido fone pois seu celular estava quase sem bateria, e por alguns momentos na sua cabeça ecoou:
- Será que devo desistir?
No momento em que havia decidido não pensar mais nisso e seguir em frente, ouviu um grande barulho vindo do lado de fora, ao se levantar para matar a curiosidade, observou um acidente envolvendo duas motos que bloqueavam toda a pista. Por conta disso o ônibus ficou parado no lugar por um bom tempo.
(“Fala sério, justo duas motos?” Sim, o Universo fazia de tudo para Any se ligar, mas de nada adiantou...).
Any aguardou impaciente a liberação da pista por quase meia hora, nesse período rejeitou duas ligações de sua mãe. Após finalmente voltar a movimentar-se, a preocupação já era nítida em Any, afinal já se aproximava das 11:15h e apesar de todo o sossego que já era de praxe, Any odiava se atrasar para seus compromissos. Já era passado de 11:20h quando chegou ao destino, Any chamou o elevador, feliz pois iria chegar a tempo apesar de tudo, apertou para subir ao 14º andar enquanto sacudia a roupa para tirar um pouco da poeira. Acompanhava em contagem regressiva os andares passando no painel do elevador, quando então no 9º andar escutou um grande barulho. Imediatamente o elevador estabilizou-se no lugar, as luzes apagaram, e pode-se ouvir uma voz robotizada que repetia:
- Falha de energia, falha de energia, falha de energia...
Any rapidamente pega seu celular para avisar o vendedor da situação, no meio do caminho rejeitou outra ligação de sua mãe, discou o número, esperou com desespero os dois minutos que levaram para a ligação ser atendida e quando finalmente iria falar, seu celular se desliga... estava totalmente descarregado e impossibilitado de ser utilizado. Surge nesse momento uma vontade enorme de chorar e uma maior ainda de rir, e Any nunca ficou tão perto de desistir, mas Any não desistiu.
Any esperou a energia ser restaurada, e finalmente, com um bom tempo de atraso chegou a seu destino. O cansaço era mais do que claro, não só pela expressão em seu rosto, mas pelos seus ombros caídos e sua coluna torta, porém nada mais importava, ajeitou o cabelo uma última vez e bateu à porta do vendedor.
A porta se abre e um pequeno menino aparece:
- Seu nome é Any né? Pode entrar, meu pai está no escritório e já está vindo.
Any entra no apartamento e se acomoda no sofá, junta forças contra a timidez e fala:
- Por acaso você tem um carregador de celular? Preciso falar com a minha mãe urgente.
O menino corre pegar um carregador e entrega para Any, que imediatamente liga seu celular e liga para sua mãe:
- Oi mãe, desculpe não atender antes, estava sem bateria, em casa convers...
Sua mãe lhe interrompe:
- Você esqueceu o dinheiro em casa!
Any socava o sofá e pensava em 2 mil tipos de palavrões diferentes, enquanto sua mãe continuava:
- Desista logo dessa ideia absurda, estou com um mau pressentimento.
Any não sabia se ria ou se chorava, a única coisa que sabia é que não desistiria, em meio à ligação o pai do menino chega. Any desliga rapidamente o celular e vai em direção ao vendedor.
- Bom dia Any, desculpa lhe fazer esperar, vamos direto aos negócios? Disse ele.
- Bom dia senhor, então... temos um probleminha para resolver. Respondeu Any.
Any contou todo o acontecido para o vendedor que dava gargalhadas, enquanto falava:
- Hahahaha, me desculpe rir assim, mas até parece um filme, você passou por muita coisa para chegar aqui não é mesmo?
- Foi um dia difícil. Disse Any enquanto olhava com o canto do olho para o teto da casa.
- Fazemos o seguinte, amanhã cedinho levo a moto em sua casa e acertamos as coisas lá. Pode ser? Falou o vendedor.
Any com o maior desânimo do mundo concordou, tratou dos últimos detalhes com o vendedor, juntou o resto de dignidade que lhe sobrou e foi pegar o ônibus para ir para casa.
(“Você acha que foi só isso? E se eu te contasse que na volta Any foi direto para casa esquecendo que estava de bicicleta, lembrando somente três dias depois. Por sorte o cadeado não era de qualidade tão duvidosa assim.)
Após tudo isso, finalmente com sua moto, a felicidade era enorme e só havia um problema: Any não sabia andar de moto. Seu pai lhe deu a ideia de praticar aos poucos nas ruas tranquilas da região perto de sua casa. O fato de amanhecer chuvoso, forçou Any a deixar para domingo o seu primeiro teste com sua nova moto. As horas passaram-se lentamente, mas finalmente o dia chegou.
Era um domingo de Páscoa, alguns amigos e conhecidos se reuniram na sua casa para compartilharem o almoço. Em torno das 11:00h da manhã Any começou a se preparar para andar de moto pela primeira vez, subiu na moto com uma alegria nítida, ainda ouvindo as orientações de seus amigos e seu pai deu a partida na moto. Colocou o capacete e acelerou pela primeira vez. Manteve uma velocidade moderada, mas o suficiente para sentir aquele ventinho gostoso em seu rosto, acenou para seus amigos em frente à sua casa quando completou a primeira volta no quarteirão. Enquanto seguia pela segunda volta somente um pensamento ecoava pela sua cabeça:
- Eai universo? Como se sente? Você fez de tudo para me impedir, mas consegui, no fim eu ri por último.
Virou a esquina e completou a segunda volta. Ao passar novamente na sua casa e ouvir seu pai dizer:
- Entra... o almoço está pronto.
Any buzinou, acenou e gritou:
- É a última volta.
Estava Any realmente indo para sua última volta, pois ao virar a esquina um carro azul atravessou sua preferência lhe acertando em cheio. Como resultado, Any quebrou seu pé esquerdo, ficou dois meses sem poder pisar no chão, e nunca mais teve vontade de subir em uma moto novamente. A caminho do hospital, Any só conseguia pensar em uma coisa:
- É mãe, você tinha razão... Maldito Universo!








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